domingo, 7 de março de 2021

Hoje eu acordei sem o despertador. Dia enrolarado, sol já queimando a pele. Vou soltar as cachorras e tem cocô na entrada do portãozinho. Respiro fundo - tá tudo bem, a Holly não controla o cocô - e peço para elas sentarem. Se conseguir evitar a agitação, consigo fazer com que nenhuma das duas pise no cocô. Solto elas e respiro aliviada - crise gerenciada. Entro na área de serviço para limpar o cocô e surpresa! A Holly também fez xixi fora do tapete higiênico - e dessa vez ela nem tem uma desculpa. E então meu copo transborda. Minha mente começa a funcionar loucamente, eu praticamente estou numa sessão de terapia comigo mesma. Penso penso penso penso e eu nem consigo olhar para elas, de tanta raiva e mágoa. Meu marido levanta e um abraço é só o que preciso para começar a chorar.

Há muitos anos, tipo uns 10 anos atrás, me bateu uma vontade muito louca de ter filhos. Naquela época eu era uma escritora assídua, se fuçar um pouco posso até achar uma referência sobre o assunto. Estava na faculdade e de repente nada importava, eu podia largar tudo e criar uma criança. Não lembro como - ou porquê - essa vontade passou. Depois disso eu só lembro de como eu nunca queria ter filhos. Deve ter sido mais ou menos quando fomos morar juntos e nos estabilizamos na vida. E a negação era tão grande que eu já tinha a lista pronta na minha cabeça:

- E se meu filho nascer com alguma deficiência?

- E se eu tiver um ciúme absurdo da criança e não deixar ninguém chegar perto?

- E se eu tiver depressão pós-parto e rejeitar a criança?

- E se eu e meu marido não concordarmos sobre a forma de criação e nos separarmos?

- E se a gente fizer tudo certo e ainda assim ele se tornar um ser humano horroroso?

Já sabendo que perfeição não existe, geralmente considero a minha vida o mais perto da perfeição quanto uma vida pode chegar. Eu tenho tudo que quero e tudo que preciso. Tenho uma família - marido e duas cachorras, amigas, tenho casa, carro, trabalho estável e bem remunerado. Faço exercícios, tenho meus hobbies, considero-me muito feliz. E se um filho vier estragar tudo isso? E se a minha vida está tão boa, mas tão boa, que não tem como melhorar? 

Quem conhece a história da minha vida, contada por mim mesma, sabe que tudo foi encaixado certinho, mas tão certinho que não tem como não acreditar em providência divina. É um discurso meio longo, então essa é uma conversa à parte dessa aqui. E se Deus me deu tudo isso assim, de bandeija, sem grandes provações no caminho, quem garante que não é tendo um filho que vou pagar todos os meus pecados? Acho que esse é o argumento que mais pesa. É o medo de perder tudo. 

Só que, de um tempo pra cá, eu venho sendo bombardeada com esse assunto - filhos - e sinto uma mudança lenta nessa resistência toda. Já não é nunca, é um talvez quem sabe daqui a vários anos. Começa com minha irmã sonhando que eu tinha uma filha, e dizendo que já tem uma criança esperando pra nascer na minha família e se eu não tiver filhos vou estar impedindo essa alma de viver. Depois vem uma sessão de alinhamento energético e diz que esse meu medo de ter filhos - sem contextualização prévia até onde eu saiba - tem a ver com os mil abortos que fiz em vidas passadas. Já a numerologia do meu nome indica que a minha missão de vida é ter filhos, e enquanto isso não acontecer eu vou sair procurando coisas para cuidar. Nada sutil, né? E eu gosto de crianças. Nos encontros de amigas eu disputo os nenéns com as amigas. Mas se der algum problema é só devolver, né?

E pra completar a discussão, ou o desabafo, tem toda a crise com as cachorras. Dois anos atrás eu acordei e a Holly simplesmente não estava caminhando com as patas de trás. Isso foi numa sexta-feira, ela foi internada no mesmo dia, sábado levamos ela para fazer um exame, o que confirmou três hérnias de disco, e domingo ela fez a cirurgia e removeu as duas hérnias mais graves. Teve alta lá pela quarta-feira e nós não estávamos em casa, então quem cuidou dela foi a Denise - a tia Dê - que já tinha bastante experiência com resgate de animais com problemas e com certeza cuidou muito melhor do que nós. Quando ela voltou para casa, ainda não andava. Ia para fisioterapia 2x na semana, tínhamos que fazer exercícios para estimular as patas diariamente, ao mesmo tempo que tínhamos em casa outra cachorra cheia de energia querendo brincar com a irmã. Aos poucos ela voltou a caminhar, conseguiu controlar o xixi, mas nunca mais controlou o cocô. E hoje ainda agradeço diariamente por ser a única limitação dela, já que poderia ser muito pior. Mas desde esse episódio, eu e meu marido já brigamos infinitas vezes por discordarmos sobre como agir com as cachorras em determinadas situações. E as brigas acabavam porque não aguentávamos mais brigar, e não necessariamente porque concordávamos com o ponto de vista do outro. Então volta e meia o assunto volta e o esgotamento emocional também. Adicionem a esse drama uma Pit estressada e latindo absurdamente para qualquer barulho. Dá para entender porque o copo está cheio, né?

E como se a Holly não gerasse problemas suficientes, ela ainda é chata e mimada. Faz xixi fora do lugar porque quer. Faz xixi no tapete, faz xixi na cozinha, que escorre pro tapete, faz xixi correndo, dá mortal no sofá, enfim, ela não colabora. A vida com as cachorras se tornou quase insuportável. Então quando eu acordo e tem um xixi fora do tapetinho, é o suficiente para não querer olhar na cara delas.

Se eu chamar cachorro de filho, certamente vão aparecer pessoas aleatórias com discurso pronto e mil argumentos para dizer que não é a mesma coisa. E não é mesmo. Mas se eu já estou no inferno tendo só cachorro, imagina com filho? Aí vem uma voz e fala - mas o filho cresce e um dia você não precisa mais limpar a bunda dele. O único detalhe é que você se livra de uma coisa e ganha outras mil para se preocupar. Uma hora ou outra ainda consigo pensar que essa na verdade é a minha prova divina, e um filho não vai ser tão pior assim. Mas o que vivo agora já é o suficiente para não estar disposta a pagar pra ver esse pior. 

Agora imagine que tudo isso passa pela minha cabeça naqueles dois minutos que estou limpando o xixi fora do lugar. E quando as lágrimas começam a cair, é basicamente porque estou orando: Deus, por favor, eu não quero filhos. Não me dê um e não me deixe esquecer os motivos pra isso.



quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Já me peguei várias vezes com saudade de escrever aqui.. mas aí eu paro e penso, por que parei? porque ando mais feliz. sobre a felicidade não se escreve, apenas se vive! não que eu tenha melhorado toda essa confusão de sentimentos dentro de mim, eu ainda sou uma bagunça, sofro, choro, fico com raiva e todas as outras mil coisas que me envergonham e me afundam mais ainda, mas só existe uma coisa que mudou de lá pra cá: eu estou mais ocupada! e, consequentemente, mais feliz. mente vazia oficina do capeta, quem nunca? e quando estou assim, basta reviver todas as minhas memórias escritas aqui..


sexta-feira, 22 de março de 2013


sexta-feira, 1 de março de 2013


segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Por que desistir é tão mais fácil?

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Livrai-me de toda mágoa que me impede de sorrir, de todas as más intenções que me impedem de seguir. dos maus pensamentos que tiram a paz, das más palavras que levam ao caos. dos maus corações. das más sensações. tudo que aqui dentro fizer mal. e que assim eu me faça livre da falta de fé. da falta de sonhos. da falta de paz. livrai-me de tudo que me prende. de tudo que ofende a minha liberdade de ser e de sentir.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

como faz pra não ficar desse jeito?

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

é, e a vida dá cada tapa na cara, que é de quase cair de qualquer lugar em que você esteja..

sábado, 1 de setembro de 2012

entenda que isso não é pensar demais sobre o assunto, mas apenas a maneira que eu tenho de divagar sobre as coisas que não merecem ser discutidas. são coisas que não me deixam triste, talvez ajudem nos milhões de pensamentos que passam pela minha cabeça quando me esforço para dormir.
são coisas que me fazem sentir sei lá, ou nada, para ser mais precisa. apenas fico pensando e se? mas, e daí? essa é a minha natureza mesmo: pensar demais.
eu tenho medo demais, e talvez por isso sempre tenho a impressão de que qualquer semelhança não é mera coincidência, é você sendo você, e é assim que eu devo te aceitar. eu sempre soube que você estava certo, você sempre sabe tudo sobre mim, sabe até demais. acontece que às vezes não posso me dar o direito de agir de certas maneiras apenas porque sei qual será a sua reação, o que você irá pensar. e daí se eu choro demais? a única coisa que mostra sobre mim é que choro por qualquer coisa, e mais nada. como isso garante que estou sofrendo mais do que quando não choro? como isso garante que vai passar, porque o choro sempre alivia tudo no final? não que contei mentiras quando dei a impressão de que estava sofrendo porque estava chorando, já que este é o assunto do momento, mas só queria chorar por nada, já que isso sempre acontece mesmo.
é uma questão interessante pensar no porquê de eu dizer que estou bem quando não estou, quando as minhas duas maiores vontades são não deixar você preocupado e precisar externalizar esse sentimento horrível. até que ponto esse tipo de mentira é aceitável? até que ponto eu sou aceitável?
ontem discuti com o meu pai sobre o fato de a tinta do cartucho colorido não ter acabado, e eu depender da opinião da mulher que carrega cartuchos para saber quão vazio o cartucho estava. tudo uma questão de confiança, afinal, se tudo na vida eu tivesse que obter provas, sei lá aonde eu estaria agora.
pois é, e parece que no final tudo se resume a confiança. até que ponto o que você está me dizendo é verdade, e quantas coisas você deixou de dizer, qual é a porcentagem da sua vida que eu não sei de nada? quanto eu não te conheço? às vezes eu ouço sussurros deste tipo, mas sempre vem a confiança e me fala: nada a ver! e aqui estamos nós.
muitas vezes deixo de dizer coisas apenas para não mostrar a minha natureza excessivamente egoísta. você já a viu algumas (ou várias) vezes, e ver sua reação apenas me deixou mais arisca. sempre o medo. se eu fosse te contar todos os meus ciúmes, e talvez você já tenha uma noção relativamente boa sobre o quão grande é essa lista, eu não sei se ainda estaríamos juntos. são coisas que até eu, principalmente eu, sei como são ridículas e insanas. são coisas que não tenho coragem de pronunciar em voz alta, porque então saberia que estou definitivamente louca, e provavelmente daria uma risada daquelas eu disse isso mesmo? o problema é que essa parte de mim que nem eu queria ser é um pouco grande demais pro meu gosto. às vezes eu acho que todos esses pensamentos depressivos e bipolares é coisa séria mesmo. e se eu descobrir que são de verdade?
tem horas, que, pensando na vida, gostaria de saber tudo sobre você. mas, quando às vezes descubro algo novo, fico em dúvida. é mais ou menos aquele ditado o que os olhos não veem, o coração não sente. eu queria saber, mas depois que eu sei parecia tão menos doloroso não saber. eu era feliz e não sabia. esse é o eterno dilema do ser humano.
engraçado que depois de um texto desses dá quase para desistir de tudo. é que coisas felizes normalmente não dão bons textos. a felicidade está lá e pronto, qual a graça? qual o sentido da vida? qual a questão fundamental?
eu gostaria que tudo fosse mais simples, mas, se fosse mais simples, será que eu iria querer que tudo fosse mais complexo? peraí que eu vou desligar o botãozinho da maluquice.

pronto.

eu te amo.